“Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.”
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Lisbon Revisited (1923)
É claro que eu lia Fernando Pessoa! O texto acima fez parte da minha vida durante um bom tempo. Os anos iniciais da minha fase adulta foram permeados por estas linhas e suas idéias. Aos 18 anos eu não tinha praticamente nenhum ideal a não ser o ficar lendo e andando de bicicleta. Nesta época participava de um grupo de teatro e isso me dava especial prazer. Não trabalhava. Havia iniciado três cursos diferentes na Universidade e a única disciplina que havia concluído era a de ciclismo.
Na verdade eu freqüentava a Universidade: meu pai me dava carona, eu entrava pela porta da frente do prédio e saia pelos fundos, indo direto para a biblioteca. Eu me deliciava enormemente com esta liberdade, com as idéias adquiridas e por escapar aos padrões convencionais de estudo estabelecidos pela sociedade.
Naquela época tencionava fazer uma grande viagem pelo Brasil, porém algo me dizia que a viagem deveria ser feita dentro de mim mesmo. Tinha amigos? Sim, e alguns permaneciam neste “ócio” da mesma forma que eu. Outros, por sua vez, trabalhavam e estudavam, somente fazendo parte do “meu ócio” nos finais de semana. Em casa eu era extremamente arrogante com meus pais e realmente os tratava como se nada entendessem de mim, não os julgava capazes e nem com o direito de tentar estabelecer a minha vida.
Como conseqüência, eu era escorraçado por eles. Eu que sempre fora um aluno exemplar, era agora um preguiçoso, um desperdiçador de minhas habilidades. Para completar, fui responsabilizado pelo fato de meus irmãos terem problemas na escola, uma vez que eu era o mais velho e deveria dar o exemplo.
É necessário dizer que jamais tive o estereotipo do rapaz agressivo, que participava de arruaças ou coisas parecidas. Pelo contrário, sempre fui cordato, muito educado, além de um tanto quanto tímido no trato pessoal. Meu único problema nessa época era “nada fazer de útil” aos meus pais e à sociedade.
Um outro ponto importante é também ressaltar que eu não havia largado a minha vida para ficar curtindo-a. Nesta época o meu martírio era intenso. Vivia angustiado. Queria fazer algo mas não sabia o quê. Pensava, pensava, pensava e nada descubria! Eu não ficava à toa e feliz. Procurava nos livros o que as pessoas não me davam, mas também nada encontrava...
Às vezes fico imaginando o quanto a vida de uma pessoa muda quando ela passa por um acidente grave que a leve a quase morrer, ou então, que lhe deixe seqüelas, obrigando-a a reestruturar sua vida. Todos que estão à sua volta sensibilizam-se, voltam-se para aquela pessoa, preocupando-se com ela, deixam a sua vida um pouco de lado para se dedicar ao ser humano que se acidentou. São de tal maneira intensos e nutritivos os sentimentos envolvidos, que a maioria dos acidentados chegam até a causar inveja aos que estão sãos, dado o carinho que recebem.
Pois um acidente muito grave acontece com todos os adolescentes e jovens adultos!
O acidente que todo adolescente ou jovem adulto sofre é psíquico e não tem data definida, portanto na maioria esmagadora dos casos passa despercebido!
Os familiares percebem uma pequena mudança ali, um comportamento mais fechado ou mais agressivo aqui e falam: Ah! São os hormônios! Desculpem-me, mas não são somente os hormônios, mas sim uma grande colisão do jovem contra o “muro da realidade” antes não vislumbrado por ele, dada a sua condição anterior de não amadurecimento psíquico. Ele sairá machucado sem dúvida deste acidente e vai precisar de muitos lhe dando a mão.
Acredito que todos os que chegaram até aqui no texto já se machucaram dessa forma e talvez possam ainda se lembrar de quanto doeu e de como é difícil transpor esta fase sozinho. Há ainda quem está juntando os cacos da colisão e por conseqüência vive uma confusão em seu dia a dia. À todos, convido-os a reflexionar sobre estas “coisas” pelas quais o jovem passa e a fazermos esta viagem juntos...
6 comentários:
AAAAAAAAAAAAAAAA
XABIRÃO!!!!
Master mega saudades!!!!
E q post hein? Quase me fez chorar (quase pq sou macho e macho ñ chora uahahha)
Pod ñ parecer, mas ñ passo sem ler esse blog!!!
Bjs!!!
Outro post muito bom.
Adro seus textos. Qualquer dia desses coloco meu nome em um deles e entreego como trabalho an faculdade.
Beijos
Nossa que profundo profº, você era nerd e depressivo. Ainda bem que o sr. superou isso um grande abraxxxx .
O mundo todo muda sempre e cada vez mais rápido!
Responder à pergunta "quem você é?" lhe parece fácil, ou cada vez que vive esta se descobrindo mais?!
Mudamos por que nos relacionamos com outros diferentes.
E na adolescencia alem do turbilhao que acontece no corpo e no organismo, começa-se a caminhar sozinho e a perceber que o mundo é muito maior do que achava...
O ser humano cresce e se desenvolve sempre, e isso gera dúvidas e incertezas..as vezes só saímos do buraco quando alguém nos oferece a mão, mas o que fazer quando se oferece a mão e a pessoa ñ aceita?
É, as pessoas são diferentes....MUITO diferentes...
Adorei seu texto...
bjs..Ká
Nhaaaaaaa...
Meu deus como um "exatóide" aghahaha brincadeirinha pode escrever tao bem...
Meu deus....
dotes do Alien q eu nao conhecia e que cada vez q eu entro aqui, me muda um pouco...
acho q ainda estou juntando esses cacos q vc disse!
nossa, muito parecido comigo! muito!
bom, pelo menos vem o consolo de que isso passa (passa, não passa?? por favor, diz que sim!!!)
eita...hehehe...só espero não virar professora, pq se eu tiver aluna pentelha que nem eu, eu esgano!!! ^^
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