O que quero contar é que peguei minha comida chinesa, também gordurosa, sentei-me e, enquanto comia, percebi um rapaz na mesa ao lado rabiscando um papel. Como sempre gostei de ver pessoas fazendo coisas diferentes do que se espera delas em certos locais, pus-me a observar o rapaz, sem que ele percebesse.
Ele parecia escrever em código e o fazia com bastante rapidez. Levantou-se abruptamente e com um gesto rápido, colocou a mochila em seus ombros e ao mesmo tempo enfiou o bilhete dobrado em uma floreira, que ficava pendurada em um dos pilares da praça de alimentação. Devido ao seu gesto rápido e à posição em que se encontrava, só quem estava ao seu lado pode perceber o que ele fez com o bilhete. Saiu muito rapidamente olhando um pouco para os lados.
Claro que aquilo me intrigou e se não fosse o que iria acontecer depois, eu acho que pegaria o bilhete somente por curiosidade.
Ainda não havia terminado a minha refeição quando uma garota sentou-se com a mãe ao meu lado – justamente na mesa que o rapaz havia estado. De mau humor, pediu para que sua mãe fosse comprar sua refeição e esta o fez sem muito reclamar. No momento em que a mãe se afastou um pouco, a garota rapidamente olhou para os lados e, não percebendo ninguém lhe observando, pegou o bilhete que estava pendurado.
Detalhe: ela sabia que ele estava lá, pois somente era possível vê-lo chegando muito perto e olhando por cima da cerca que envolvia as flores.
Enquanto ela lia, seus olhos se umedeceram e as primeiras lágrimas começaram a rolar. Passado algum tempo, soluçava e debruçava na mesa para se esconder dos passantes. Sua mãe percebeu que ela lia algo e voltou depressa, a tempo de impedi-la de ler o outro lado. Agarrou o bilhete da mão da filha, olhou-o rapidamente e enquanto o amassava dizia:
- Outro bilhete em código? Quando isso vai acabar? Não quero você com aquele rapaz! Você não usa mais celular e nem Internet para não poder se comunicar com aquele bandido! Quer que eu não a deixe sair de casa? Quer? – olhava rispidamente para sua filha.
O bilhete foi jogado no chão caindo em um lugar quase inacessível, embaixo do móvel onde estávamos sentados.
Procurei não desviar os olhos de minha comida e nem os ouvidos do que ela dizia, afinal, sou humano e curioso. Notei também o quão rápido elas se afastaram. O meu lado humano também falou mais alto quando deixei cair um talher e ao abaixar-me, estiquei a mão pegando o bilhete. Enfiei-o rapidamente no bolso. – parece que ninguém notou.
Dentro do cinema, e enquanto esperava o filme começar, abri o bilhete novamente. Reli o conteúdo. Ele estava codificado, tratava-se de uma cifra chamada “A cifra do chiqueiro”, onde as letras são substituídas por símbolos.
O primeiro lado do bilhete falava na dor da separação e o quanto ele queria estar ao lado dela. Dizia da impossibilidade dos dois estarem juntos no momento e não vislumbrava essa possibilidade também no futuro. Terminava triste, praticamente dizendo que esse amor era impossível e dando adeus à garota. – esse lado do bilhete ela leu.
Ao ler o outro lado, percebi que o rapaz tomava uma decisão: dizia não ser possível mais se acomodar à situação atual e planejava um encontro para tentarem conversar. Dizia que a amava muito. – este lado ela não leu.
Senti uma dor muito grande pelos dois. É claro que eu não sabia o drama que os envolvia, mas o fato dela não ler sobre o quanto ele a amava e pensar que tudo estava acabado me entristeceu demais. Na tela o casal parecia se entender bem e entrava em alguns apuros algumas vezes, porém o final foi feliz. Não posso fornecer detalhes sobre o filme, pois o conteúdo do outro lado do bilhete não saia da minha cabeça...
O filme terminou e eu pedi licença para continuar na sala para ver o início da próxima sessão. O funcionário permitiu, uma vez que a sala não iria lotar. Esperei um pouco e vi quando alguém se sentou na “terceira cadeira da quarta fila do lado esquerdo da sala”. – conforme pude decifrar.
Levantei-me, caminhei um pouco, e com uma esperança a brilhar em meus olhos entreguei o bilhete ao rapaz dizendo:
- Ela não conseguiu ler este outro lado, sua mãe impediu!
Ele me olhou assustado, agradeceu com a cabeça sem proferir palavra alguma, levantou e correu para a saída.
Fiquei muito feliz por conhecer a “cifra do chiqueiro...
10 comentários:
Prossor,
é você?!
Hauauhauhauha Claro qé vc! Esse texto aí do cara na praia é no stilo do q vc dizia na aula! hauauhahuahuahu
qria ter uma vida emocionante como a sua!
gostei da historia professor.... muito bonita mesmo...
tenho saudades do sr.!!! sabia que fui pra GV? *lembra q era só eu e mais seis pessoas do reforço da GV???xD* velhos tempos, belos dias!!!^^
alias, essa é uma musica do roberto carlos... huhuahuahua
deixa pra lá!
beijocas prof!
professor, adoro como vc faz para que as coisas sejam mais interessante do que elas aparentemente são...
abs,
sua ex-aluna super lgl da qual o sr nao lembra
Outro post muito bom...
As histórias são ótimas, eu amo!!!!!
Bjs de uma ex-aluna com saudade.
Marcela
Ahhhhh eu sempre lembro aleatoriamente, nos momentos mais bizarros de frases suas e fico rindo bestamente sozinha =)
isso acontece qse sempre no ônibus, q coisa!
Boa sorte em tudo que vc fizer, pq vc merece!!
Bjus!!
iaeee vitão! q herói hein! ahuhauhauh
show de bola! saiu do etapa neh viado!? vai faze muita falta lah cara!
abração! e boa sorte ae pra onde for!
Ahhh...
Sempre com saudades sua...
mas a "|Selva" não é tão ruim assim nao???
Enfim...
Nha vc salvando a vida de um apaixonado...
que LINDOOOOOOOO!
Bjao
Prof, vim agradecer por todas lições que o sr passou pra mim. Não só contas e física aprendi, mas como rir das melhores e piores situações que somos obrigados a passar na vida. O vestibular pra mim foi uma etapa(puxa!) bem sucedida e agora eu estou me fortalecendo tanto academicamente como profissionalmente qt pessoalmente. Especialmente pessoalmente. Acredito que possuo mta sorte e mto agradeço por ter tido vc e tantas outras pessoa maravilhosas na minha vida me orientando, ensinando e principalmente demonstrando que apesar de tanta coisa ruim no mundo ainda dá pra sorrir, aliás, que o melhor é sorrir. Melhor ainda: fazer os outros sorrirem junto. Hj procuro retribuir todo carinho e atenção que recebi. Vou contar o que faço pra ajudar e espero que se sinta orgulhoso pois vc tb é uma das pessoas que faz parte disso em todos os momentos. Trabalho como voluntário num cursinho tb pré-vestibular, porém este é voltado a todos aqueles que não possuem a mesma condição de gente como nós, alunos e ex-alunos do Etapa. São pessoas que muitas vezes faltam por não ter dinheiro pro transporte mas possuem igual ou até mais vontade e determinação pra ingressar numa faculdade pública (particular sem prouni está fora do alcance). O cursinho se chama Cursinho Fea-Usp e temos inclusive um professor nosso (Rogério Silveira) de Geografia que também é prof do Etapa e conseguiu autorização pra dar aula nos dois cursinhos. Também estou desenvolvendo junto a alguns colegas, um projeto de Orientação Financeira, tb voltada pra população de baixa renda. Desenvolvo projetos administrativos para ONGs tb, sendo que atualmente tenho trabalhado com o Espaço Cultural Beija-Flor da ONG CARF. Creio que contando todos os beneficiados por esses projetos, mais de 700 pessoas são gratas indiretamente ao sr todo ano. Como o senhor pode ver prof, o trabalho de vcs vai mto além de introduzir(uuhhh...) vestibulandos em faculdades públicas ou passar conhecimentos técnicos. O sr e tantas outras pessoas maravilhosas como vc, ensinam como a aproveitar a vida da melhor maneira possível de se viver e que levar a vida a sério não quer dizer que não podemos rir e brincar e fantasiar que tem um alien saindo da sua barriga! hauhauhauha
Só tenho o que agradecer por todos os presentes que o sr me deu.
Abraços,
Eric
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