quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Papai Noel, me traz uma profissão?

Estamos às vésperas do Natal e ele já ganhou seu presente: passou na primeira fase da FUVEST e da UNICAMP. Realizou outras provas com excelentes resultados. Na semana passada, ele fazia as provas do ITA e tudo ia bem, até que disse aos seus pais:

- Não vou fazer a última prova! Quero me matricular em um curso pré-vestibular. – ou seja, ele decidira também não fazer as provas de segunda fase.

“Ele”, é um rapaz de 17 anos, que acabou de concluir o ensino-médio. Aluno muito aplicado, tem enormes chances de ingresso em excelentes Universidades públicas, nos cursos mais concorridos.

Será que ele desistiu do seu futuro? Está amedrontado? Sente que pode fracassar?
Respostas: Não, não e não!

Simplesmente, – e isso não é tão simples assim – ele não sabe que caminho seguir em sua vida e, está tão confuso no momento, que teme ficar mais confuso ainda se for aprovado em algum curso, por isso optou por não fazer o restante das provas.

Quando eu soube disso, senti uma imensa amargura. Lembrei-me o quanto foi difícil a minha escolha, assim como a dos meus jovens amigos lá no longínquo final da década de 80. Comecei a pensar que quando escolhemos algo, temos necessariamente que relegar ao abandono vários outros “algos” muito queridos por nós. Veio-me à mente a necessidade de definição de um papel social para o indivíduo. Mas não pude deixar de sentir o horror que isto causa ao mesmo individuo que deseja liberdade para se expressar e ser o que quiser.

Lembrei-me que o jovem é jovem demais para deixar de ser jovem e parece que escolher é deixar de ser.

Isso tudo passou muito rápido por mim.

A vontade que eu tive foi de encontrar esse meu aluno de 17 anos e lhe dizer que um dia eu também me perdi e que hoje, por muitas vezes, ainda me perco.

Não sei se isso lhe faria bem...

Outra vontade que tive foi a de dizer a ele que saísse pelo mundo.
Viajar, fazer amizades novas, conhecer outras culturas, trabalhar, isso tudo faz um bem danado.
Mas eu não o encontrei e as aulas já acabaram...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quase

Ainda pior que a convicção do não,

É a incerteza do talvez,

É a desilusão de um quase!

É o quase que me incomoda,

Que me entristece,

Que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga,

Quem quase passou ainda estuda,

Quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,

Nas chances que se perdem por medo,

Nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.

A resposta eu sei de cor.

Está estampada na distância e na frieza dos sorrisos,

Na frouxidão dos abraços,

Na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.

A paixão queima,

O amor enlouquece,

O desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.

Mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,

O mar não teria ondas,

Os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina,

Não inspira,

Não aflige nem acalma,

Apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Para os erros há perdão,

Para os fracassos, chance,

Para os amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.

Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque,

que a rotina acomode,

que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando...

Fazendo que planejando...

Vivendo que esperando...

Porque, embora quem quase morre esteja vivo,

Quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Veríssimo

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Piadas que conto em sala de aula e ninguém ri...

Certa vez, eu cheguei em uma sala de aula e, em um tom sério, disse que uma tia minha, muito velhinha, estava bem perto do “fim”.
Os alunos ficaram sem entender o que eu falava.

Continuei...

- Sabe o que acontece? É que a esta hora da manhã, a minha tia já se levantou e está tomando o seu café. E ela é diabética, logo, procura usar adoçante.
- É, realmente ela está perto do “fim”. – eu dizia, fazendo um bom suspense.
- Como assim, professor? – perguntavam os alunos.
- Ora, ela já tentou usar aspartame e outras marcas, mas a que ela mais gosta é o “FINN”.

Alguns riem, mas não da piada...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Nota de corte


Professor! Professor!
Olhei para o lado. Uma simpática garota veio me cumprimentar.
Lembra-se de mim? – perguntou a garota – Ano passado, Unidade São Joaquim, sala 25, fileira da frente...
Sim, eu me lembrava dela, nem precisava me passar tantas informações. Os alunos talvez se surpreenderiam se soubessem o quanto são lembrados pelos professores, é só dar um tempinho para acessar a memória...

- O que você está fazendo? – perguntamos quase ao mesmo tempo um para o outro.
Ela sorriu sem poder se conter:
- “San Fran”! – tradução: Direito na São Francisco.
E eu, cuidando dos meus filhos, – um menino de quatro anos e uma menina de dois anos – e tentando evitar que eles escapassem, simplesmente falei:
- Ah! Direito...
E ela um pouco indignada disse:
- Professor, é Direito na São Francisco!
Na verdade, se pudesse, ela diria:
- Professor, se liga! Consegui entrar em uma das melhores Faculdades e você só me diz isso?

Percebi minha mancada involuntária e durante a conversa procurei me redimir, até que, ao se despedir, ela me disse:
- Eu queria te contar uma coisa: - Sabia que, na primeira fase, eu fiquei um ponto acima da nota de corte?
- Professor, todos me diziam para esquecer a São Francisco!
-Ninguém passa na segunda fase com uma nota baixa na primeira! – era o que falavam.
- Pois eu passei professor! E gostaria que você falasse sobre isso aos seus alunos.

Nos despedimos. Eu saí muito feliz com o encontro inesperado.
Desde aquele dia fiquei pensando no que ela falou e nas muitas variáveis que poderiam ter ajudado ou atrapalhado sua nota: “um ponto acima do corte.”

E eu não gostaria de discutir aqui estas variáveis, mas simplesmente afirmar que quem “passou raspando” continua na luta, ainda que tenha que lutar também contra as estatísticas. – o que é muito mais interessante, por ser mais desafiador.

Nada substitui a vontade, o desejo de conquistar algo. É muito importante que nos deixemos surpreender por nós mesmos. É no limite do que somos que aprendemos a “ser mais”. Frases óbvias? Pois então, lembremo-nos sempre delas!

Faça um acordo com o seu coração e combine com ele manter sempre aceso o desejo de vencer. E fica aqui o meu desejo sincero que você consiga!