terça-feira, 27 de novembro de 2007

Nove


Ele não saberia dizer quanto tempo havia passado. A cabeça baixa no automóvel, o olhar voltado para o livro e em seu rosto, a expressão de quem descobrira algo muito importante. Um sorriso contido, mas não o bastante para que pudesse ser notado. Logo nas primeiras páginas o texto descrevia a trajetória de seu tio, que há mais de vinte anos havia deixado o Brasil e seguido pela América do Sul. Jamais alguém tivera alguma informação a respeito do ele fizera ou o porquê dele ter escondido tais informações até mesmo da família. Mas o mapa estava lá, feito à mão, logo no começo do livro. O texto estava codificado, mas como a cifra já era uma velha conhecida sua e a emoção grande, a leitura fluía rápida. De repente o carro parou. Ivan levantou os olhos, percebendo o quanto avançaram na subida da montanha. O motorista, sempre de olhar atento, retirou do porta-luva uma caixinha e a abriu. O rapaz notou que a parte interna da caixa era um espelho rústico bem velho, com a qual começaram a fazer sinais luminosos em direção à casa, ainda distante, lá no alto da montanha. O carro somente seguiu viagem após uma confirmação luminosa vinda da antiga construção. O alívio era geral por parte dos ocupantes do carro. Agora subiam mais rápido e Suares, fazia questão de se mostrar feliz com o sucesso do transporte. Finalmente chegaram. Ivan levantou os olhos e percebeu a imponência da construção, diferente de todas as que havia encontrado pelo caminho. A “Grande Pedra” estava ao lado, produzindo uma enorme sombra ao seu redor, inclusive em uma parte da casa. Nesta sombra o carro foi estacionado. - Devemos voltar agora mesmo, mas você fica! – disse o sr. Carlos a Ivan. - Mas... - Não se discute algo que já estava previsto há mais de 20 anos... – disse Soares, olhando-o gravemente. Dito isso, entraram no carro e enquanto fitavam o rapaz desejaram-lhe sorte, partindo sem olhar para trás. Ivan encontrava-se sozinho diante de uma enorme pedra e de uma casa que inspirava um respeito assustador.
Naquele instante, a figura de Ana voltou-lhe à mente e a saudade ia começar a se manifestar, mas, na casa, uma porta começou a se abrir.

sábado, 24 de novembro de 2007

Amanhã é dia de FUVEST


Amanhã é dia de FUVEST. Eu me lembro da primeira vez que prestei...Recém saído do terceiro ano de um curso técnico, sem preparo algum para as disciplinas que não fossem de exatas, mas, cheio de sonhos. Fiquei muito tenso, sentei-me no lugar que mostrava meu nome e fiquei ali, tentando recordar fórmulas e lembrar de algumas aulas...

Até que percebi que haviam colocado algo na minha carteira. Ah! A prova! Comecei a lê-la freneticamente e, cada dúvida que surgia, se fazia acompanhar por um frio no estômago. O meu mundo naquelas quatro horas foi a prova e eu. E como ela me maltratou ... Eu dizia algo e ela ficava muda. Ou então eu achava que várias coisas valiam e ela não permitia que eu pensasse assim. Que conversa difícil! Mesmo assim, eu me esforçava por agradá-la, tentava argumentar e mostrar que eu estava maduro, mas ela me pedia algumas coisas que me deixavam na dúvida...
Será que eu ainda não estava maduro o suficiente para ela? A resposta era não, realmente não estava. Ela convivia todos os anos com muitos outros iguais a mim e sabia como desnudá-los, deixá-los à mercê da sua experiência. Eu era somente mais um.
Seu documento por favor! Assine aqui! – disse a garota sorrindo para mim, ao conferir meus dados.
Ela me olhou nos olhos e desejou-me boa prova sorrindo ainda mais.
Eu não sorri e nem lhe disse nada. Sabem que era ela? A prima de minha namorada! E eu sequer percebi!
Saí da sala no último instante. Se era para lutar, tinha que ser até o fim.
Ela me sorriu de novo! Quanta insistência! Caminhei como um robô em direção à saída. Foi aí que percebi o quanto estava tenso! Havia pedras sobre meus ombros. Eu que sempre fora bom aluno, sentia que havia sido derrotado por uma prova.

Sim, o resultado confirmou minhas suspeitas, quase consegui, mas fiquei no quase...
No ano seguinte fiz o que era necessário: um curso pré-vestibular que me mostrou muita coisa que eu pensava que sequer existia. Nossa quanta novidade!
Foi lá que eu me diverti muito, amei pela primeira vez, comecei a me tornar um jovem rebelde contra o sistema, querendo mudar o mundo e ainda foi lá que escolhi o que gostaria de fazer na vida: queria ser igual aqueles “caras” lá em cima do tablado.

No ano seguinte, entrei na sala da prova sorridente e fazendo graça. Tinha a prova à minha frente e sentia o mundo ao meu redor. Pude sorrir ao fiscal que me pediu o documento – desta vez era um homem, que droga! – e quando terminei, saí relaxado.

O resultado foi positivo – ainda bem que não era um exame médico! E eu pude viver alguns anos muito felizes em uma universidade. Mas esta felicidade, fica para ser contada em uma próxima oportunidade...

Este texto foi montado a partir de um mantra encontrado em cavernas escondidas no Himalaia. Demorou séculos para ser escrito, pois, a cada letra está associado um número e a soma de todos eles dá a quem lê as condições de sabedoria suficientes para vencer obstáculos intelectuais. Se você leu até aqui saiba que vai passar na prova de amanhã. Fica então o meu desejo sincero de boa prova, pois o restante você “vai tirar de letra”, e “tirar de número também”...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Resposta


Alguém me perguntou algo e eu respondi da seguinte maneira...

Você acertou! Sim, eu tenho a intenção de escrever um livro. Desde pequeno que, eu acordava mais cedo e aproveitava o silêncio do lar de meus pais para escrever. Quando adolescente, aproveitava as noites sem namoro para rabiscar textos. A prolixidade me perseguia. Foi quando abandonei os textos e os troquei por números e mais números... As palavras ecoavam em mim, mas eu não lhes dava ouvidos. Percebi anos mais tarde que havia abandonado também meus sonhos e minha própria vida... Foi quando o "ser" professor começou lentamente a me levar a fazer amizade comigo mesmo e a ter coragem de perguntar o que eu gostaria de viver. Foi quando voltei às letras, sentido que teria que pedir licença para entrar em seu mundo há muito deixado ao abandono. Timidamente então, e com muito respeito, estou retornando, feliz!