- Por favor, deite-se! Não levante até que lhe diga para o fazer, por favor! Queremos o seu bem, pode confiar... – disse-lhe o sr. Carlos, demonstrando preocupação.
Suares não disse uma palavra nos primeiros dez minutos de corrida. Olhava insistentemente para todos os lados e não tirou os olhos do retrovisor até que houvessem entrado em uma estrada secundária. Daí, pareceu ter ficado mais calmo. Olhou para Ivan e, com um sorriso, pediu para que se sentasse como devia.
- Que trabalho está dando para os “amigos”, hein? – disse-lhe em um tom amistoso.
- Pode contar comigo. O sr. Carlos e eu faremos o possível para que você fique bem.
Ivan não conseguia concatenar as idéias direito, sentir então, nem pensar. Tudo aconteceu muito rapidamente. Sua viagem começara lhe trazendo uma sucessão de imagens, sons e cores novas. Tudo era novidade para os seus sentidos – a moto era sua única confidente e companheira. Aos poucos, uma viagem paralela àquela que estava vivendo nas estradas se iniciou: uma viagem para dentro, rumo ao seu coração. O deserto proporcionava isso. Uma solidão que lhe fazia querer entender o que se passava em sua vida. Porém, mal começara esse processo e Ana apareceu. De repente, estava no banco de trás de um carro com dois desconhecidos, subindo uma pequena montanha em meio a um deserto que não parecia ter fim.
O sr. Carlos foi quem quebrou o silêncio. Pegou um livro surrado, com uma capa de couro já desgastada e rasgada. Olhou seriamente para Ivan e disse:
- Eu espero não estar selando em destino trágico para você, meu amigo. O meu tom é grave porque a situação assim exige. Parece que despistamos nossos maiores perseguidores e creio que o maior desafio agora é essa estrada. Não pense que é fácil seguir pelo deserto à noite e nessa montanha. As poucas pessoas que fizeram isso não contaram histórias nem um pouco animadoras.
Um silêncio se fez, logo interrompido pelo sr. Carlos.
- Tome o livro. Você já sabe do que se trata. Você deve iniciar a leitura agora, pois será testado assim que chegarmos à “Grande Pedra”.
Ivan não soube o que pensar a respeito do “destino trágico” que o sr. Carlos citou. Pegou o livro e começou o seu trabalho. Na capa havia uma numeração estranha, mas que não o deixou confuso. Os dois homens observavam o rapaz concentrado naquela codificação, quase incompreensível:
13521 71811445 1957185415
A quilômetros dali um coração aflito torcia insistentemente para que Ivan passasse no teste. Era Ana.