domingo, 28 de janeiro de 2007

Figuras e destino

Em uma brincadeira com alguns amigos, olhamos fotos e pensamos em inserir textos nelas (que guardem relação com o título do blog, é claro). Surgiram muitas idéias e algumas estão aí...


Na estrada...



Caso fiquemos vacilando...


Essa idéia foi feminina...



O ano em que fizemos cursinho I

Ele queria dar uma volta. Subiu as escadas e ganhou a rua. Iria tomar um lanche rápido e voltar à sua tão conhecida sala de estudos. Seus olhos se distraiam com o movimento de carros, pessoas, mas, de repente, fixaram-se – ele nunca a vira por ali.

Que linda! – pensou, andando em direção à lanchonete onde ela estava.

Ela não o viu, apesar do olhar do rapaz. Conversava e ria com as amigas e quando fazia isso se desligava do mundo – ele haveria de notar esta característica nos anos que se seguiram.

Instantes antes dele entrar na lanchonete elas saíram. Não desgrudara o olho da garota, mas ela sequer o notou. Encostou-se no mesmo pedaço de balcão onde ela, instantes atrás, se encontrava. Pediu um salgado e esperava impacientemente ser atendido, acompanhando-a com os olhos até que ela entrasse no cursinho.

Foi aí que notou um pequeno estojo feminino no balcão.

O dono da lanchonete percebeu o seu olhar no estojo e disse:

- Eu sei quem esqueceu este estojo – e descreveu a mesma garota.

O rapaz, em um impulso, disse que a conhecia e que entregaria o estojo. Sorriu, pegou o lanche e saiu em direção ao cursinho.


O restante da tarde foi diferente de todos os outros: olhar perdido e observando um parque pela janela da sala de estudos – muitas crianças lá brincavam, lembra até hoje. Não conseguia parar de pensar nela e ainda não sabia, mas seus próximos anos também seriam assim.

No começo da noite, como de costume, ela voltou para casa seguindo sua rotina: conversar um pouco com a mãe, beliscar algo para comer e fechar-se no quarto para estudar. Além do cursinho à tarde, tinha colégio logo pela manhã e a prova do dia seguinte seria um pouco difícil.

Adormeceu na cama em cima dos livros. A luz acesa àquela hora chamou a atenção de sua mãe, que, com carinho, retirou a apostila de biologia dos braços da filha, acomodou-a, deu-lhe um beijo e apagou a luz.

O sonho daquela noite foi diferente de todos os outros: ela encontrou alguém muito especial, conversaram, passearam durante muito tempo, riram juntos e prometeram encontrar-se de novo.


Ela acordou com uma gostosa sensação de felicidade. A prova foi difícil e o seu dia no cursinho igual a todos os outros, a não ser por uma alegria nova a invadir o seu coração e por começar a ser observada por alguém muito querido. Mas isso ela somente perceberia algum tempo depois.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Primeiro o deserto, agora a neve

Aqui está a vista da janela da casa da minha prima. Acho que vai dar para perceber que o ambiente mudará bastante nas fotos. Claro, mesmo não sendo metrô, as estações mudam...
Esqueci que eu não estou em sala de aula!



Alguém adivinha em que lugar ela mora?


Robert Langdon e Sophie Neveu (O código Da Vinci) deixaram o SmartCar parado na casa da minha prima!


E já que as notícias são de lugares onde neva...


Olhem estes pequenos cães: eles são bonitinhos e já são fornecidos com microchips.
Com a adoção desta medida, a cidade de Vilnius (Lituânia) diminuiu drasticamente o número de animais desabrigados, uma vez que eles podem ser localizados e, além disso, os microchips tem informações básicas sobre o seu endereço.


Será que há um parafuso na parte de trás da orelha por onde o microchip pode ser retirado para troca de dados?


A postagem de hoje foi bem diferente. Se alguém perguntar o motivo, eu direi que é porque eu achei que meus textos são longos e eu quis dar uma quebrada neles. Aliás, alguns amigos me enviaram umas fotos loucas com alguns dizeres, no estilo do Postsecret. Vou postar alguma coisa deles em breve, assim que tiver coragem.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Uma lenda oriental



Omir vivia na época das lendas e onde coisas fantásticas aconteciam. Ele era um pobre vendedor ambulante que queria enriquecer. Seu trabalho era árduo, repetitivo e sonhava sair dessa situação descobrindo um tesouro.
Vamos encontrá-lo certo dia em uma feira. Parou em frente a uma barraca de livros e passeando os olhos por eles deparou com um título simples mas que lhe chamou a atenção: “O tesouro”
- Que livro é esse? – perguntou ansioso para o vendedor.
- O nome já diz tudo! Ele mostra como encontrar um tesouro! – respondeu o vendedor com os olhos brilhantes.
Um momento de hesitação e sem sequer analisar o que lhe foi dito arrematou:
- Vou levar! – disse o rapaz, pagando o preço estipulado.
Voltou para casa apressado. Folheava a introdução do livro enquanto caminhava, devorando o texto. Passado o prólogo ficou decepcionado: o livro iniciava a sua história em um dialeto antigo e desconhecido no reino onde ele morava.

Sem desânimo procurou uma solução. Já no dia seguinte voltava para casa com uma espécie de dicionário que iria ajudá-lo na tarefa de tradução – presente de um grande amigo e sábio da região.
Avidamente entregou-se ao trabalho de entender o livro. Durante meses trabalhava de dia e à noite traduzia incansavelmente o texto, somente parando de madrugada.

Neste ínterim ocorreu um fato novo em seu reino: a visita de mensageiros de um povoado distante que, conforme já havia sido anunciado, vinham para propor um acordo comercial muito lucrativo. Festas foram feitas em homenagem aos elegantes representantes reais. Porém, em meio às apresentações, um grande susto abalou a alegria de quase todos os presentes: os forasteiros falavam um estranho dialeto incompreensível.
Tradutores foram procurados, tentativas vãs de entendimento foram feitas, mas um acordo comercial exigia declarações claras de ambos os lados, o que tornou a sua concretização impossível.

A história correu o reino e o desânimo era geral quando, para surpresa de todos, Omir apresentou-se como intérprete daquele dialeto antigo – era justamente o que ele estudava para traduzir o livro.
O acordo fora firmado. O reino viveria uma prosperidade jamais vista e Omir, dada a sua capacidade, foi instituído tradutor real, deixando seu antigo trabalho e caminhando para um muito mais promissor.

A ponte



Passado algum tempo o progresso do reino dava mostras a quem o visitasse. Crescimento do comércio e das rotas de caravanas que por lá passavam. Novas construções e moradores.
Vamos encontrar Omir desvendando o seu livro todas as noites sem descanso. Era comum as pessoas perguntarem umas às outras “a que hora a luz do quarto de Omir se apagou ontem de madrugada?” Ele havia chegado a um ponto do livro que versava sobre matemática e estava há alguns meses deduzindo expressões complicadas, tudo com o intuito de descobrir o caminho para o tesouro.

Mas o palco dos acontecimentos seria agitado por um novo desafio. O rei queria criar uma nova rota comercial – muito lucrativa por sinal – e para tanto, necessitava construir uma ponte entre as duas grandes montanhas vizinhas. Ele propôs então um prêmio vultoso a quem enviasse o melhor projeto.


Os grandes sábios do reino enviaram suas idéias, algumas pessoas mais esclarecidas também fizeram o mesmo e Omir, que nesta época entendia muito de geometria e suas implicações em construções, resolveu participar.
Analisados os projetos por uma equipe de sábios veio a surpresa: nosso querido Omir teve sua ponte aprovada por unanimidade. O rei ficou felicíssimo dada a originalidade do traçado e a economia de material proposta. Omir não somente ganhou o prêmio como também o cargo de engenheiro real.

Passados aproximadamente dois anos a ponte estava construída e gerando o fluxo comercial almejado. O reino prosperava em ritmo acelerado. Omir nessa época estava na parte final do livro que versava agora sobre medicina antiga. Incansavelmente esmiuçou o organismo humano, desvendando os conhecimentos mais modernos sobre o assunto.

Finalmente o tesouro



Por esta época uma grande desgraça abateu o reino: uma peste desconhecida assolou a região, levando ao leito inclusive o nobre e valoroso rei. Os sábios e os ajudantes de medicina faziam de tudo, mas as mortes iam se sucedendo em número muito grande. Não havia diagnóstico preciso a respeito daquela peste, uma vez que os sintomas eram novos.



O nosso querido Omir teve então uma brilhante idéia relacionando a peste e seus sintomas com um problema de um povo distante relatado no seu livro. O remédio proposto foi elaborado e dado aos doentes.
A surpresa e o alívio: quase todos começaram a apresentar melhoras, inclusive o rei. A felicidade era tão grande que festas foram realizadas. Omir ocupava lugar de destaque, agora visto também como grande conhecedor das artes médicas. E aproveitando a euforia, o rei disse em discurso público que queria ter Omir próximo a ele. A partir deste dia ele seria conselheiro real e moraria nas dependências do palácio.



Omir terminou de ler o livro nesta época. Conta a lenda que ele ficou indignado pois nenhum mapa do tesouro foi mostrado e sequer uma dica de como encontrar o tesouro ficou explicito no tão longo e complicado livro.
Resolveu devolvê-lo e requerer seu dinheiro de volta, uma vez que fora enganado. E assim foi feito. Dirigiu-se à barraca e falou nestes termos:
- O senhor mentiu para mim – disse ao vendedor da barraca – Este livro não me mostrou tesouro algum! – completou.
O vendedor fitou-lhe de cima a baixo e sabia e calmamente retrucou:
- Lembro-me de quando o senhor adquiriu o livro, pagando caro por ele. Suas vestes eram pobres e seu semblante cansado e mal cuidado. Lembro-me também de tê-lo visto sendo homenageado pelo nosso rei e sei que és agora conselheiro real e mora no palácio. Por um acaso, será que tudo isso não lhe aconteceu após ter iniciado a leitura do livro?

Omir não cabia em si de vergonha. Em um instante percebeu que o tesouro – “uma arca cheia de pedras preciosas” – enterrado em um lugar qualquer e que poderia ser encontrado com a ajuda de um mapa não era a intenção do livro. A sua leitura trouxe um tesouro que jamais lhe seria tirado nem pelo mais vil ladrão: o tesouro do conhecimento. A sua perseverança havia lhe trazido inúmeras conquistas e ainda ajudado os que estavam ao seu redor. E sua existência haveria de ser mais feliz ainda dado que naquele instante decidiu que tornar-se-ia um estudioso e aplicaria o seu saber sempre em benefício dos outros.



Devolveu o livro ao vendedor. Pois sabia que era necessário que mais pessoas se beneficiassem dele. Despediu-se e agradeceu com os olhos úmidos. Caminhou bastante e parou no alto de um morro. Sentia um alegre contentamento por viver. Desceu, reintegrando-se à vida do reino, pois tinha que dividir esse contentamento com os outros...
Este texto foi inspirado no conto "O tesouro de Bresa" de Malba Tahan.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Essa é do meu filho...

Após o almoço, na área de diversão de um restaurante em Valinhos...

Meu filho (2 anos nesta época) e eu estávamos brincando na grama com uma bola, quando chega um garotinho (aparentemente com a mesma idade do meu filho) e começa a se enturmar conosco. Após alguns minutos de brincadeira, resolvo perguntar o nome do menino.
A resposta veio: Auerlt! - incompreensível.
- O quê? - perguntei
- Auerlt! - ele respondeu
Como não seria possível continuar a conversa, sorri e pus-me a brincar novamente. Porém, no mesmo instante, percebo uma moça aproximando-se. O detalhe era a pose em seu andar (salto alto afundando na terra) e a arrogância no falar.
- O nome de meu filho? – disse com ar de desdém. É Alfred! – pronunciou com uma pose peculiar como se todos os segredos do universo tivessem sido desvendados naquele instante.

Como pai desatento não pude perceber que meu filho prestou grande atenção à conversa. Olhou-me então com insistência e perguntou o nome de seu amiguinho.
Instado então pelo seu olhar, disse-lhe que o garotinho chamava-se Alfred.
- Sim, Alfred – repeti.
- Não! É A – L – F – R – E – D ! - disse novamente.

Desnecessário dizer que após umas dez repetições eu aceitei qualquer coisa que meu filho balbuciou como sendo o nome do nobre menino. Percebi um certo ar de satisfação na elegante senhora após o insucesso de meu filho no pronunciamento daquele nome tão imponente e belo.

Devo aqui abrir um espaço e pedir para que as pessoas que estejam lendo este texto e que tenham seus nomes de alguma maneira mantidos em seu modo original me desculpem. Não é minha intenção depreciar qualquer nome, seja ele de onde for. Se fosse assim, o primeiro nome a ser depreciado seria o de minha mãe: Aldona! O quê? Neste momento o editor de texto sublinhou esta palavra esquisita! Vou escrever de novo: Aldona. Não é que a palavra foi sublinhada outra vez!
Calma, vou avisar o computador para ignorar este tipo de grafia...

Pois bem, para encurtar e dar o desfecho à nossa história, a cena continua no momento em que o menino tem que ir embora e sua mãe então (com ar de enfado) diz para seu filho para que ele nos dê tchau. O garoto realmente estende sua mãozinha acenando um tchau mudo...
Incitei meu filho a devolver a despedida. Porém, ele estava ainda envolvido com a brincadeira que sequer me deu bola (literalmente).
Foi quando eu lhe dei um ultimato, parando a bola com minhas mãos e dizendo: Dê tchau ao seu amiguinho!
Ele, vendo que não havia solução, acenou gritando bem forte :
- Tchau John!
O nome era Alfred e na pressa saiu John...
Bom, não preciso dizer que a nobre mãe saiu contrafeita pela troca dos estrangeirismos e por favor, não me perguntem como ou porque ele fez a troca. Não sei dizer. Mas fica aí a graça infantil em toda a sua espontaneidade.
Atualizando o calendário: Hoje, ao observar sua irmãzinha que dormia já por duas horas e não acordava por nada, ele me disse: Pai, alguém deve ter tirado a pilha dela! Ou então ela está desligada!

sábado, 13 de janeiro de 2007

Já fui sequestrador

Depois de passado tanto tempo percebo que foi um impulso que nos motivou a realizar aquilo. Alguém disse: é agora! E todos, sem pensar nas conseqüências, começaram a agir.
Claro que tínhamos um conhecimento prévio do local e dos costumes dos moradores da casa. Não estávamos de maneira nenhuma agindo no escuro ou sem segurança do sucesso da operação. Porém sempre vacilávamos em relação à data, mas naquele dia foi diferente.

Já havia anoitecido e, apesar da rua ser um pouco movimentada, tudo foi tão rápido que ninguém percebeu. A vítima não teve sequer chance de escapar à nossa investida. Nossa ação foi orquestrada: enquanto um estacionava o carro, um outro abria o porta-malas e nós três a levávamos para dentro do mesmo. Fechada a tampa, parecíamos cinco jovens conversando em volta de um automóvel e o barulho da rua abafava qualquer tentativa de chamar a atenção de dentro do porta-malas.

Causamos um transtorno grande. Aquele ente querido convivia com a família há mais de 25 anos. Perceberam a sua falta no outro dia pela manhã, uma vez que sua rotina incluía passar a noite fora de casa.
O que nos levou a tal ato? Uma causa ideológica que me reservo no direito de não revelar. Posso parecer vil mas afirmo que não me arrependo de nada do que fiz, apesar de ter sido um instrumento a serviço da dor alheia.

O cativeiro

Meus irmãos cuidaram dele. Deram-lhe roupa nova (não aquele conjunto musical) e todas as condições para passar bem nos dias que se seguiram. De repente até rolou uma “síndrome de Estocolmo”, não sei, mas o fato é que ele foi entregue melhor do que quando veio às nossas mãos.

Após sete dias ele voltou à casa. Recolocamos ele no mesmo lugar em que ficara por tantos anos. Ele voltou pintado, com uma malinha nas costas sugerindo uma viagem: havíamos seqüestrado um anão de jardim de um de nossos amigos.

Pelo que soubemos, com a sua volta, a casa voltou à normalidade e os dias puderam seguir alegres...

Observação: segundo algumas informações, a função de um anão de jardim é proteger a casa onde ele está instalado. Só não sabemos quem o protege.
Veja também:

Notícias da BBC


29 de dezembro de 2003:


A França quer encontrar lares para anões sem jardim. A polícia francesa vem tentando descobrir o endereço original de mais de 80 anões de jardim sequestrados. Os pequenos bonecos barbudos foram capturados por um grupo que se auto-intitula Frente de Libertação dos Anões de Jardim na cidade de Saint-Die-des-Vosges. Eles reapareceram enfileirados sobre a escadaria da igreja local na manhã do último domingo. As autoridades não prenderam os responsáveis. Mas os proprietários dos anões tampouco têm aparecido para reclamar de volta as peças roubadas de suas casas. Notoriedade desde 1997, a Frente de Libertação dos Anões de Jardim ganhou notoriedade na França, tendo raptado (ou libertado, como afirmam) mais de 6.000 gnomos. O destino final que dão à maioria dos bonecos é desconhecido. Certa vez, 11 deles foram encontrados enforcados sob uma ponte. Ao lado dos anões de jardim pendurados pelo pescoço havia uma recado: "quando vocês lerem essas palavras, já não seremos mais parte de seu mundo egoísta no qual servimos apenas como peça decorativa". No caso de roubo coletivo de Sant-Die-des-Vosges, o final foi mais feliz. Um padre encontrou os anões em formação, como se estivessem indo à missa. A maior parte dos bonecos recuperados continua aguardando seus donos buscá-los num armário empoeirado da delegacia de polícia. Um dos motes da polícia de Sant-Die-des-Vosges neste final de ano é: por favor, encontre uma casa para um gnomo neste Natal e Ano Novo.


Em 2001:

O grupo Gnomos livres volta a roubar anão de jardim em Chavelot, França. Depois de promover um ''suicídio em massa'' no Leste da França em 1998 e organizar um ataque-surpresa a uma exibição de jardinagem em Paris no ano passado, seqüestrando 20 gnomos, a misteriosa Frente de Libertação dos Anões de Jardim reapareceu na França atacando em outras frentes. A polícia francesa encontrou ontem mais de cem anões e outros enfeites de jardim no meio da rua na cidade de Chavelot, Leste do país. Os gnomos, anões e bichinhos de todos os tipo, tinham sido roubados de seus donos durante a noite. Alguns deles formavam a frase ''Liberte os gnomos''. ''Tudo foi feito muito cuidadosamente'', contou o porta-voz da polícia. No último domingo, Marinette Cortina, dona de uma fazenda em Decazeville, no Sul do país, deu queixa na delegacia da cidade pelo sumiço de cinco anões e outros seis animaizinhos que enfeitavam o seu jardim há 25 anos. Esta não é a primeira vez que ela sofre este tipo de violência. No ano passado, algumas de suas pequenas estátuas já haviam desaparecido misteriosamente do gramado. A Frente de Libertação dos Anões de Jardim, grupo clandestino com o propósito em ''libertar os gnomos e devolvê-los às florestas'', ganhou fama durante a metade da década de 90, mas sofreu um revés em 1997, quando a polícia prendeu o líder do grupo e o multou por sua participação no desaparecimento de 150 anõezinhos.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

A fila do cinema

Era sábado à noite. Iríamos assistir a um filme e depois...sei lá! Chegáramos cedo e por isso éramos os primeiros da fila. Uma senhora simpática ficava na roleta, ainda bloqueada.
- Este filme é muito triste! – disse-nos a senhora, sem que perguntássemos
Sorrimos e ela emendou:
- Outro dia veio aqui um rapaz e perguntou se havia sexo no filme. Sabem o que eu disse? Tem sexo sim rapaz! Tem os dois sexos no filme: homens e mulheres!
Rimos – surpresos.
- Pelo que eu sei este aqui é um cinema de arte, se ele queria sexo deveria ter ido lá para baixo! – referindo-se à Rua Augusta.

A fila era grande. Um problema com o projetor no meio da sessão anterior atrasara as próximas em pelo menos 30 minutos. Surpresa, ninguém na fila reclamava, pois estavam ligados no que ela falava.

Outro dia um senhor me disse que eu era engraçada, que eu tinha graça. Respondi que só uma santa que “é cheia de graça” e que ele procurasse outra santa, pois essa já tinha dono! Atrevido, veio me cantar aqui na fila! Meu marido já morreu mas o meu coração ainda está com ele – disse meio risonha e meio triste.
- Por isso nem adianta tentar viu moço! – disse-me com um gracejo.

O pessoal da fila riu do seu jeito espontâneo.

- Você trabalha moço? – perguntou-me mais séria.
- Estou estudando, gostaria de ser professor – respondi.
- Ah não! Eu tive cada professor chato! Abandonei meus estudos na 8º série. Sou ignorante da maioria dos assuntos que minhas filhas estudam. Meus professores não gostavam do que faziam, eu percebia.
- Menino! Não estudar fez tanta falta! Não pude escolher muita coisa... – disse com olhar meio perdido.
- Eu não trabalhava no que gostava, vivia triste e reclamava muito. Mas um dia, sabe o que aconteceu? Lembrei-me do meu professor de literatura: ...”Capitu e seus olhos oblíquos e dissimulados”... – esta frase ele repetia sempre enquanto pedia para olharmos em seus olhos. Ele nos fazia sonhar com os textos! E como os alunos participavam! Eu sempre corria à biblioteca para pegar o livro que ele indicava.

Mas o que tem meu professor de literatura com a minha vida? É que eu percebi que amava ler e que poderia ser uma “leitora de vidas”. Sim, eu fico aqui na fila e leio quem vocês são. Percebo bem algumas histórias e outras nem tanto. Os casais! Ah! estes mostram sua história logo que chegam. Dá para perceber quem ama, quem tem pequeno interesse e qual dos dois gosta mais.
Tem uns namorados por ai que dão beijinhos olhando com o canto do olho para os bumbuns das outras. Homem é fogo! Mas mulher é pior! Teve uma aí que estava na sala com o namorado e saiu para comprar pipoca. Ficou aqui fora uns 10 minutos tascando um beijo em um carinha. Mas não era qualquer beijo não! Fiquei imaginando o coitado lá dentro esperando e começando a atrapalhar quem estava atrás dele. É, cresce “aquilo na cabeça” e atrapalha a visão de quem está atrás – disse meio risonha, mas decepcionada.

Sabe, não sou psicóloga, mas faço minhas análises. Percebi que a sensibilidade da literatura pode e deve ser trazida para o real e que isso fez do meu trabalho um prazer imenso.
Sou muito simples sabe? Meu português nem é muito correto, mas com o tempo percebi que gosto de contar histórias e que o que elas trazem e mais importante do como são escritas. Graças a Deus, as pessoas gostam de me ouvir e acreditam em mim. O senhor acreditou, não foi moço?
- Assenti com a cabeça e sorri sensibilizado.
Ela retribuiu o sorriso e pediu meu ingresso, pois a sala estava liberada para entrada.
- Até mais e seja um bom professor!

Terminado o filme as pessoas saiam e procuravam com os olhos aquela senhora simpática. Despediam-se dela e não comentavam o filme, mas sim a fila. O nosso grupo foi a uma pizzaria perto dali. Ninguém comentou a sessão. O papo girou em torno do que ela nos falou. O garçom da pizzaria a conhecia, já ouvira outras pessoas comentando sobre ela.

Naquela noite ela disse-nos mais, muito mais... Foram as palavras, seu olhar, seus gestos...
Transcrever tudo isso considero impossível. Convido-os a imaginarem uma pessoa comum e que realizava uma atividade muito simples. Mas fazia isso com tal magia que ainda se faz lembrada após vinte anos. E fica a gratidão por tê-la conhecido.