Na estrada...
Caso fiquemos vacilando...
Essa idéia foi feminina...
Ele queria dar uma volta. Subiu as escadas e ganhou a rua. Iria tomar um lanche rápido e voltar à sua tão conhecida sala de estudos. Seus olhos se distraiam com o movimento de carros, pessoas, mas, de repente, fixaram-se – ele nunca a vira por ali.
Que linda! – pensou, andando em direção à lanchonete onde ela estava.
Ela não o viu, apesar do olhar do rapaz. Conversava e ria com as amigas e quando fazia isso se desligava do mundo – ele haveria de notar esta característica nos anos que se seguiram.
Instantes antes dele entrar na lanchonete elas saíram. Não desgrudara o olho da garota, mas ela sequer o notou. Encostou-se no mesmo pedaço de balcão onde ela, instantes atrás, se encontrava. Pediu um salgado e esperava impacientemente ser atendido, acompanhando-a com os olhos até que ela entrasse no cursinho.
Foi aí que notou um pequeno estojo feminino no balcão.
O dono da lanchonete percebeu o seu olhar no estojo e disse:
- Eu sei quem esqueceu este estojo – e descreveu a mesma garota.
O rapaz, em um impulso, disse que a conhecia e que entregaria o estojo. Sorriu, pegou o lanche e saiu em direção ao cursinho.
O restante da tarde foi diferente de todos os outros: olhar perdido e observando um parque pela janela da sala de estudos – muitas crianças lá brincavam, lembra até hoje. Não conseguia parar de pensar nela e ainda não sabia, mas seus próximos anos também seriam assim.
No começo da noite, como de costume, ela voltou para casa seguindo sua rotina: conversar um pouco com a mãe, beliscar algo para comer e fechar-se no quarto para estudar. Além do cursinho à tarde, tinha colégio logo pela manhã e a prova do dia seguinte seria um pouco difícil.
Adormeceu na cama em cima dos livros. A luz acesa àquela hora chamou a atenção de sua mãe, que, com carinho, retirou a apostila de biologia dos braços da filha, acomodou-a, deu-lhe um beijo e apagou a luz.